quarta-feira, 28 de maio de 2008

Na abertura da 18º Semana da Imprensa, mesa e estudantes de jornalismo debatem sobre liberdade de expressão






Por Lívia Nunes e Silvana Venâncio, do 5º período de Jornalismo da FAFIC


“Na realidade, em relação a esses nossos companheiros, não nos cabe aqui imaginar a causa que os levaram a não estar aqui conosco nesta noite”, disse o presidente da Associação de Imprensa Campista (AIC), Orávio de Campos. O jornalista se referia a três integrantes de jornais locais, convidados para o debate “Jornalismo Campista em Tempo de Crise – Ética e Liberdade de Expressão”, mas que não estiveram presentes.

Fazendo parte da 18ª semana de Imprensa, no auditório Alair Ferreira, na Faculdade de Odontologia de Campos, a mesa do debate passou por uma alteração de última hora, passando a contar com os jornalistas Avelino Ferreira, Jacqueline Deolindo, Vitor Menezes e Fernando da Silveira, sob a moderação de Orávio de Campos.

Por que não te calas? - Sob as lembranças da Ditadura Militar que restringiu de forma brutal a liberdade de expressão no Brasil, ficou clara a indignação dos debatedores por ainda hoje haver quem queira fazer calar a imprensa. As discussões sobre o assunto são recorrentes. Avelino Ferreira aproveitou a noite para relembrar quantas vezes foi dispensado de veículos de comunicação por falar o que o público não poderia ouvir, na opinião de membros influentes da elite econômica e política regional. Ainda assim, abriu o debate questionando o que é a liberdade, que tanto se quer.

— Nós, jornalistas, vamos para o jornal e aprendemos a escrever, aprendemos a técnica. Somos apenas técnicos, como um pedreiro, um ajudante de pedreiro. O conhecimento faria a diferença, e só se tem conhecimento lendo, observando, relendo. Requer muito trabalho, mas nós não queremos, só queremos a informação. Nossa análise dos fatos é pequena porque, quanto menos conhecemos, pior analisamos, pior nos expressamos e, então, não se pode falar com propriedade sobre liberdade de expressão — alfinetando alguns companheiros de profissão e estudantes.

Isenção x engajamento - Até onde vai a necessidade de isenção do jornalista na hora de escrever uma matéria e até onde se vendem e se prostituem os profissionais da informação? O que diz o Código de Ética do Jornalista Brasileiro? O que pensam os estudantes? Questões levantadas.

— Todo jornalista quando procura o primeiro emprego quer escrever o que pensa. Mas, quando ele chega ao jornal, vê que existe uma pauta, uma linha editorial a ser seguida e assim, nossos sonhos vão sendo embolsados para um momento mais propício — comentou Jacqueline Deolindo, quebrando as ilusões de muitos estudantes que ouviam o que dizia.

Atualmente, Campos possui três jornais significativos em circulação. Cada um com sua linha editorial. Fica fácil perceber ou imaginar qual será a manchete de cada um sobre o mesmo fato na manhã seguinte. Os debatedores comentaram a sorte de existirem esses três jornais para debater entre si, ao invés de, como acontece em outros municípios, existir apenas um veículo de informação que dite a suposta verdade.

A participação de investimentos empresariais nos lucros dos jornais formando parcerias também gerou dúvidas sobre a ética e liberdade de expressão dos jornais.

— O problema da imprensa não é ter opinião. Na verdade, opinião e imprensa sempre caminharam juntas e eu acho que quanto mais transparente for a imprensa a respeito do que ela pensa e sobre como se posiciona diante dos fatos, melhor. O problema é você usar os mecanismos da comunicação, muitas vezes manipulado por essa falsa condição de independência, para levar as pessoas a acreditarem em uma imparcialidade que não existe. No caso específico da ligação com as empresas, é que o caso não chega nem sequer nesse nível de discussão, de questão ideológica, nem isso. A questão é pura e simples o dinheiro — afirmou Vitor Menezes.

Nenhum comentário: